Sobre criação, Dionísio e Pigmaleão
Após escrever mais de 1000 posts neste espaço (e uns 500 em outros), posso afirmar, do meu método de escrita.
Não tenho um objetivo claro, um plano bem definido. Muito menos, um público-alvo, uma persona que quero atingir. Nada aqui foi projetado tendo em mente um canal específico, nem contém propositalmente palavras-chave pesquisadas para bombar em SEO. Tudo isso é baboseira. Um texto escrito assim seria chato, burocrático, sem vida, o pior texto do mundo, falso, artificial.
O método é caótico. Começo com uma leve ideia da mensagem que quero transmitir, e um ou dois tópicos de apoio. O texto vai ganhando vida, linha por linha, quase que por conta própria — é como se as palavras quisessem ser escritas, e eu fosse apenas o dedo que imprime a mensagem no papel.
Nem todas ideias viram texto, nem todos embriões ganham vida — há um processo automático de eliminação — é como se o rascunho falasse, “não, não está certo”.
As que ganham vida são, como dizia Nietzsche, escritas com sangue, e devem ser lidas com a alma.
Ainda citando Nietzsche, o método do plano bem definido seria representado pelo deus grego Apolo, da ordem, da beleza, de tudo o que é certinho.
O contraponto é o deus Dionísio, do caos, da feiúra, da embriaguez, da êxtase inebriante.
Dionísio é o senhor da criação. As grandes ideias vêm do caos.
Outra lenda grega é a de Pigmaleão. Um escultor, que fez uma estátua de uma mulher tão perfeita, que ele se apaixonou pela própria criação. Ele ficou tão perdidamente louco de amor que Zeus se apiedou e deu vida à estátua.
E assim são as grandes ideias. Todo criador deve ser como Pigmaleão. Todas as grandes ideias têm potência, têm tesão, têm vida própria!
“Viver não é necessário; o que é necessário é criar.” — Fernando Pessoa
Originally published at https://ideiasesquecidas.com on June 20, 2021.