Peter Drucker, os novos rumos da IA e o Eterno Retorno

Arnaldo Gunzi
3 min readApr 16, 2023

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Não sou nenhum futurólogo, pelo contrário: uma coisa que gosto de fazer é de olhar para o passado. A história é um reflexo do que foi, e do que pode vir a ser.

Estive a ler o clássico livro “Management”, do grande escritor austríaco Peter Drucker. Foi escrito há quase 100 anos.

Neste, o autor coloca que as relações de poder sempre foram baseados em “land, labor and capital”, ou seja, a posse de terras, trabalho, e dinheiro. O trabalhador comum só poderia entrar com o trabalho, não tendo os demais fatores. Isto estaria mudando, devido ao que ele chamou de “trabalhador do conhecimento”: pessoas com conhecimento, que usando apenas o cérebro (ou um computador, que é um cérebro aumentado), conseguiria quebrar essa lógica.

Dessa forma, um contador altamente competente não estaria preso a uma empresa. Ele não seria mais um “trabalhador da Ford”, mas um contador, e estaria livre para vender o seu serviço e suas habilidades para qualquer empresa.

Drucker acertou na mosca, e nas décadas seguintes, realmente o trabalhador do conhecimento se consolidou, e o vemos em todos os lugares: consultores, programadores, web designers, e assim por diante…

Só que o mundo girou, girou, e voltou ao ponto do “land, labor and capital”.

Hoje, para ser capaz de criar um chatGPT ou tecnologia de ponta similar, são necessários milhões de dólares de investimento, uma equipe altamente capaz e know-how, de modo que só meia dúzia de big techs (Apple, Facebook, Microsoft, Google, Amazon, etc…) conseguem competir de igual para igual. Talvez adicionar umas big techs chinesas, que compensam menor know-how com mais investimento.

Há algumas mudanças no conceito: mudar o “land” para algo mais geral, como “meios de produção”; mudar o “labor”, de trabalho braçal para trabalho mental; e o capital continua sendo o mesmo, dinheiro, que é como se fosse equivalente à energia concentrada, energia produtiva da sociedade como um todo.

Pois bem, hoje em dia, uma pessoa comum, sem acesso ao capital e aos meios, consegue contribuir apenas com o “labor”, por mais que seja um tipo diferente de trabalho de década atrás.

E para o futuro? Algumas análises.

O campo de tecnologia avançada está grande demais, com inúmeras especilidades necessárias, para alguém dominar sozinho ou com um time pequeno. Essa concentração de poder de fogo só pode vir de grandes corporações ou governos, de modo que as grandes inovações tendem a continuar cada vez mais concentradas em poucos atores.

Os fatores “land, labor and capital” sempre existiram e sempre existirão, mudando um pouco lá e cá.

Alguns dizem que tecnologia vai mudar tudo e todos, só que isso também não é verdade. O que não é informação (como biologia ou química) não vai seguir a Lei de Moore e não terá desenvolvimento exponencial. O milho ainda terá que ser plantado e seguir o seu ciclo, o minério ainda terá que ser extraído por máquinas de mineração; o boi vai continuar crescendo, em ganhos sub exponenciais. Portanto, há inúmeras possibilidades de atuação e melhoria, neste grande mundo!

Como diria Berton Braley, as melhores oportunidades ainda não chegaram.

Veja também:

Originally published at https://ideiasesquecidas.com on April 16, 2023.

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Written by Arnaldo Gunzi

Project Manager - Advanced Analytics, AI and Quantum Computing. Sensei of Analytics.

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