Parabéns, você passou no ITA!

Arnaldo Gunzi
4 min readJun 8, 2024

Ouvi a frase do título há quase 30 anos, no vestibular de 1998 do prestigioso Instituto Tecnológico de Aeronáutica.

De lá para cá, muita água rolou: me formei, mudei para o RJ, retornei a SP, etc…

Recentemente, um fato curioso do vestibular acima foi divulgado, via lista de Whatsapp da turma. É uma planilha, com alunos e notas do vestibular.

A fonte da planilha é o portal de informações do governo federal. Para buscar informações sobre outros vestibulares de outras turmas, basta mudar a query.

https://buscalai.cgu.gov.br/PedidosLai/DetalhePedido?id=4812299

Pois bem, a planilha tem os alunos convocados, em ordem alfabética. As notas por matéria, a média obtida, e a colocação geral do aluno.

Olhando a minha colocação, um choque total!

Quase 30 anos depois, fiquei sabendo que passei na 21a colocação, dentre os convocados no vestibular do ITA!

A lista totaliza 148 convocados. Se for para contar candidatos, multiplicar por umas 100 vezes esse número.

Foi um choque, porque, na minha cabeça, tinha ido muito pior — lembrando que tal informação era desconhecida até agora.

Os meus colegas eram um pessoal muito fera. Só gênio. Além disso, muita gente de colégios caros e tradicionais de todo o Brasil. Concorrência altamente qualificada, e a minha desvantagem inicial era enorme.

  • Tinha uma galera do Colégio Bandeirantes de SP, uma escola caríssima.
  • Colégio Etapa em SP, que também não fica muito para trás.
  • Um pessoal do Poliedro, em S. José dos Campos, especializado no vestibular do ITA.
  • Também uma galera do Nordeste, onde há alguns excelentes colégios especializados no ITA também.

O vestibular do ITA tinha algumas diferenças. Não caia matérias como História e Geografia. Já o que caia, como Matemática e Física, era num nível bastante acima dos vestibulares “normais”. Ou seja, quem tinha uma preparação específica para o ITA poderia concentrar energia no estilo da prova e ter uma vantagem, o que fazia a diferença dentre uma concorrência enorme.

Já eu fiz o Ensino Médio numa escola pública, a Escola Técnica Federal de São Paulo. Uma escola excelente, sem dúvida, e que por sua vez, também tem um vestibulinho para a entrada. Hoje a escola mudou de nome, é o IFSP — Instituto Federal de São Paulo.

Porém, como o próprio nome indica, uma escola técnica serve para formar técnicos, e não preparar para o vestibular. Tínhamos matérias como Eletrônica, Laboratório de Eletrônica, matérias diversas de Telecomunicações, Antenas. Tudo muito legal e interessante, porém, não caia nem na Fuvest nem no ITA.

Ao final do terceiro ano (no técnico são 4 anos), eu já sabia que iria prestar vestibular e não seria técnico.

Fiz o quarto ano técnico, à noite, enquanto fazia cursinho de manhã. Ganhei uma bolsa integral no Etapa, graças a boas notas num simulado de Matemática. Fazer cursinho foi excelente, daqueles pontos que mudam a vida da pessoa, porque se tivesse que pagar, mesmo que com um bom desconto, meus pais não teriam $ para bancar.

Lembro que meu inglês tendia a zero, e foi uma das matérias que tive que estudar que nem louco, senão nunca passaria.

Também dediquei muito esforço em História, Geografia, Química e Português, porque a Escola Técnica dava essas matérias apenas no primeiro ano. Eu tinha que me preparar para o vestibular da USP, que aliás era o meu objetivo.

Química, por exemplo, tomei a decisão de ignorar Química Orgânica. Chutar tudo. Porque não daria tempo de estudar. Até hoje não sei o que é fenol…

Em Matemática, é claro que estudei forte, fazia aula de Olimpíadas de Matemática também. Só que, sendo o meu ponto forte, preferi voltar menos energia nesta e mais energia para as demais.

Portanto, daí a desvantagem esperada, em relação ao ITA: dediquei anos do ensino médio estudando matérias que não caíam (como Eletrônica e Telecomunicações), no cursinho também foquei em algumas que não caíam (Geografia, História) e ITA nem era o meu desejo inicial.

Passei no ITA e USP. Após passar no vestibular, outro incidente fortuito. As aulas no ITA começavam em Janeiro, enquanto na USP, em Março. Isso por conta do CPOR, a parte de formação militar aos alunos.

Como as aulas no ITA começavam antes, valeria a pena experimentar, e se não gostasse, simplesmente optar pela USP um mês e meio depois.

Pois bem, chegando lá, muito me impressionou o altíssimo nível dos colegas e da instituição. Aí, foi natural ficar.

Bom, voltando à lista de convocados, boa parte ficou, mas nem todos. Teve gente que foi para a USP ou para outras universidades.

É bom notar também que a colocação de saída foi diferente da colocação de entrada. O bom de não ter notas divulgadas é que o jogo recomeça do zero, nenhum aluno entra sabendo que foi melhor que outro. A vantagem inicial de cursos preparatórios específicos não existia mais.

Algumas conclusões.

A colocação de entrada, numa prova feita há quase 30 anos, não vale para mais nada. Mesmo assim, fico feliz em saber que obtive excelente colocação em meio a colegas extremamente qualificados.

O vestibular não é o fim, é uma etapa. Lembro que, ao final do primeiro ano, um pessoal das escolas hiperespecializadas no vestibular do ITA foi reprovado. Já quem tinha formação mais geral, sofreu menos. E mesmo a faculdade é uma etapa, é apenas o começo da jornada.

Estude muito, trabalhe muito, dê o melhor de si sem ficar se comparando aos demais. Temos a tendência que achar que a grama do vizinho é mais verde, mas na realidade, é a nossa grama que importa.

Veja também:

Sobre o dia que mudou a minha vida:
https://ideiasesquecidas.com/2020/06/14/efeito-borboleta-a-roda-da-fortuna-e-as-moiras/

Sobre a Disciplina Consciente no ITA:
https://ideiasesquecidas.com/2016/04/05/confesso-que-colei/

Sobre Esforço x Genialidade:
https://ideiasesquecidas.com/2017/01/06/a-associacao-dos-burros-esforcados/

Originally published at https://ideiasesquecidas.com on June 8, 2024.

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Arnaldo Gunzi

Project Manager - Advanced Analytics, AI and Quantum Computing. Sensei of Analytics.