O Navio de Teseu
O Navio de Teseu suscita uma intrigante questão filosófica que me captura incessantemente.
O paradoxo foi criado pelo filósofo grego Plutarco e apresenta uma situação hipotética envolvendo o navio do herói Teseu.
Após cumprir sua jornada original, o navio de Teseu foi mantido em um museu. Ao longo dos anos, suas peças de madeira foram gradualmente substituídas por novas, à medida que as originais apodreciam.
Digamos que o navio tivesse 1000 peças e tivessem se passado 1000 anos, com uma substituição por ano.
A questão crucial é: o navio, com peças totalmente diferentes das originais, ainda é o navio de Teseu?
Além disso, imagine se as peças substituídas fossem usadas para construir outro navio, exatamente igual. Qual dos dois seria o verdadeiro navio de Teseu?
Ora, e daí? O que isso tem que ver conosco?
Ocorre que, à medida que o tempo passa, nosso corpo continuamente tem suas células morrendo e sendo substituídas por outras. Assim como ocorre com o navio de Teseu, depois de um tempo (já ouvi falar em 7 anos), todas as células do corpo são trocadas, de alguma forma.
Consideremos o Toyota Corolla: a versão dos anos 1980 difere significativamente da atual, tanto em peças quanto em aparência, restando apenas o conceito.
Pode-se, então, afirmar que é o mesmo modelo de carro?
À medida que envelheço, refletir sobre essa transformação torna-se inevitável. A pessoa que sou hoje possui desejos e visões de futuro distintos daqueles de 15 anos atrás, e o mesmo será verdade ao olhar para trás, daqui a 15 anos.
Esta reflexão também me lembra o gráfico do ciclo do sucesso. O que priorizo hoje — dinheiro, posição — não vai ser importante para o eu daqui a 15 anos, quando finalmente os tiver. Já pontos que não têm tanta importância hoje (digamos, amigos, família) podem ser os mais relevantes para a pessoa futura. Pensando no navio de Teseu futuro, seria melhor fazer bons amigos e cuidar da família hoje.
O navio de Teseu muda, mas continua navegando.
“Onde está o menino que fui, está ainda em mim, ou se foi?” — Pablo Neruda, em O Livro das Perguntas.
Originally published at https://ideiasesquecidas.com on February 15, 2024.