O dia que tirei nota 2 numa prova de Matemática
Gostaria de compartilhar com os leitores, o dia em que tirei a nota mais baixa da minha vida. Uma nota 2, numa prova de Matemática, que é justamente o meu ponto forte.
Pois bem, era uma vez, há muitos e muitos anos, na verdade algumas décadas atrás, um garoto que gostava muito de Matemática…
Eu devia ter uns 12 anos, à época. Sempre gostei da precisão, da lógica da “rainha das ciências”, título dado à Matemática por um de seus filhos mais proeminentes, Carl Gauss.
A ocasião era uma prova, dessas que dão bolsa de estudos para escolas de ponta. Era no ensino fundamento, e o alvo era os últimos anos. Não lembro a escola que aplicou tal prova, só lembro que fiz.
Bom, era uma prova de matemática, sem outras matérias. O conteúdo era de matemática do ensino fundamental. Eu particularmente achei a prova muito fácil, conhecimento básico.
Qual foi a minha surpresa quando recebi o resultado, algumas semanas depois: nota 2. Que coisa, tinha ido tão mal assim? Será que eu achava que sabia alguma coisa, mas na verdade não sabia nada? Ou será que tinha tido um erro? Essa nota deu uma abalada na minha confiança.
Pois bem, a vida continua. 5 anos depois, fazer simulados de vestibular virou rotina. Em SP, escolas como Etapa, Objetivo, Anglo e outras, que concorrem fortemente por bons alunos para passar nos vestibulares, costumam fazer esse tipo de concurso. O objetivo é divulgar o nome delas como boas escolas preparatórias (e são mesmo). Numa dessas, também numa prova de matemática, ganhei uma bolsa integral para cursinho preparatório no Etapa, meio que “vingando” a prova de anos atrás.
Como o ensino médio que eu fazia era técnico e o último ano era noturno, durante o dia eu fazia o cursinho e à noite, completava as grades do ensino médio. O cursinho foi especialmente útil, porque no ensino técnico só tive um ano de matérias como geografia, história, química e biologia (essas duas eu não sei até hoje).
Nessa mesma época, ganhei medalha de bronze na XIX Olimpíada Brasileira de Matemática para o segundo grau — tem até o meu nome, na lista da OBM de 1997: https://www.obm.org.br/premiados-obm-1997/
Nos anos seguintes, tive várias cadeiras de matemática no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e também fiz algumas de pós-graduação no IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada).
Curioso que mesmo no ITA, IMPA, escolas de ponta, o mais baixo que tirei foi um 5 e foi muito raro. Na média sempre tirei 8,5. Nunca tirei nota tão baixa quanto aquele 2, que tinha abalado a minha moral à época, nem nas matérias que sabia muito pouco, como química.
Olhando hoje, tenho a mais absoluta certeza de que minha nota foi muito maior. Duas hipóteses:
- Era uma prova escrita, discursiva, e peguei um professor que não entendeu minha letra;
- Algum erro mesmo, de trocar notas.
Bom, mas a lição é que nem tudo depende só de nós. O destino pode fazer nossas vidas irem para um lado ou para outro, como um navio à mercê da correnteza e dos ventos. Tudo pode mudar num momento. Uma bola na trave na final da Copa do Mundo. Um instante de desatenção numa prova concorrida. Uma pessoa aleatória que você encontrou e te apresentou sua futura esposa. Um entrevistador que pulou o seu currículo por preguiça. Perder a batalha por falta de um prego.
Na mitologia grega, as Moiras são três irmãs que determinam o destino dos seres humanos. Uma faz o fio, a outra tece, e a terceira, corta. Elas utilizam a Roda da Fortuna: alguns fios são privilegiados, outros, não. Elas não são nem boas nem más, apenas fazem o seu trabalho. Uma vez tecido o destino da pessoa, nem os deuses têm o poder de alterar.
A nossa sorte é decidida por deusas caprichosas, que giram a Roda da Fortuna, que tecem a sorte das nossas vidas e escrevem no Livro do Destino.
Trilha sonora: O que será — Chico Buarque e Milton Nascimento
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