Notas — VII Conferência de Escola Austríaca
Participei da VII Conferência de Escola Austríaca.
Segue abaixo um misto de notas e reflexões, sem muita edição.
Resumo em uma linha: Vida, Liberdade e Propriedade
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Grandes características
A Escola Austríaca de Economia baseia-se em valores que a diferenciam de outras escolas de pensamento, como a de Chicago.
- Estado mínimo
- Intervenção mínima ou não intervenção na economia monetária
- Liberdade individual
- Análise de fenômenos através das ações individuais
- Rejeição de modelos matemáticos sofisticados
Da esquerda para a direita, daria para colocar principais características das grandes escolas de pensamento econômico, de forma grosseira:
Marxista — Keynesiana — Chicago — Austríaca
De Estado muito grande para Estado mínimo
De pouca liberdade para muita liberdade
De bem estar social para bem estar individual
Hélio Beltrão
Sobre Javier Milei, da Argentina.
Milei é anarcocapitalista, que defende fim do estado, como vira presidente?
É como querer destruir o PCC, entrando em suas fileiras e subindo. É o caminho que ele encontrou.
Uma de suas promessas de campanha era dolarizar 100% da moeda. Porém, não o fez. Devido ao tremendo déficit argentino, se o fizesse, teria sérios problemas para pagar. O caminho é tratar primeiro o déficit fiscal, daí evoluir em outras pautas.
Sobre Maduro, Venezuela.
Venezuela tem sistema de urna eletrônica com impressão para conferência posterior. Se a urna bater com a contagem, há o boletim de urna. Também há um código hash para validar autenticidade da informação.
Maria Corina é uma heroína, que treinou quase um milhão de voluntários para registrar os boletins, sabendo que haveria fraude.
Há um lugar na Venezuela, chamado helicoide, onde os adversários políticos são levados para tortura. Maria Corina foi raptada e levada ao helicoide, indicam fontes.
Evidências em ciências sociais
(palestra Felipe Rosa).
Tomar cuidado com evidências em ciências sociais. Essas evidências não carregam toda informação existente. Não conseguimos pegar uma cidade, dividir em duas e fazer um teste controlado em cada metade, porque há infinitas variáveis envolvidas.
Para a tomada de decisão, aliar conhecimento e prática. Olhar para “evidências” com ceticismo.
Fernando Ulrich, sobre gangorra cambial
Em 2008 houve um desequilíbrio jamais visto, em termos de expansão monetária.
Na pandemia, 2020, idem. Temor enorme de deflação levou a uma expansão monetária jamais vista. O FED imprimiu dinheiro a rodo. O volume de dólares saiu de US$ 4 trilhões para 9 tri em poucas semanas. Além disso, o governo estimulava o consumo da poupança existente.
Nos anos posteriores, houve a maior inflação global em 40 anos, e também um enxugamento de dólares em circulação.
“A inflação aleija, mas o câmbio mata” — Mário Henrique Simonsen.
A ideia aqui é que a inflação causa impacto a curto prazo e vai sendo assimilada. Já o câmbio fraco favorece exportações a curto prazo, mas torna o país todo mais pobre a longo prazo.
Durante Paulo Guedes, o câmbio, no Brasil, foi a R$ 5 e ficou oscilando neste patamar.
Na visão de Ulrich, Guedes foi muito bem na economia, exceto no câmbio.
Com Guedes, a política econômica era: Fiscal apertado, monetário frouxo.
Já com governos anteriores (e posterior), era o oposto: fiscal frouxo e monetário apertado.
Sobre o carry trade do iene. “Carry trade” é “a aposta do carrego”.
Um case ao contrário foi na Islândia, por volta do ano 2000. Boom econômico e imobiliário, uma bolha. Ilha com 300 mil habitantes, câmbio estável e poucos bancos.
Os bancos islandeses tomaram dívidas em outras moedas (dólar, libra) para investir no boom da Islândia.
Quando vai bem, tudo ok. Mas a hora que a bolha explodiu, um choque, porque tinham dívidas em moedas fortes, aumentando problemas existentes.
No Japão.
Como a taxa de juros é zero ou próxima de zero, ao pegar um empréstimo no Japão, em ienes, vou pagar a mesma coisa meses depois.
Pois bem, grandes bancos e instituições financeiras pegavam ienes emprestados, convertiam em outras moedas (como o Real brasileiro), onde os juros são maiores, e embolsavam a diferença.
São instrumentos financeiros sofisticados, pessoas como nós não conseguem fazer isso.
Nos últimos tempos, com inflação em alta, o FED subiu juros e fez um aperto monetário.
Com juros americanos mais altos, o mundo corre para o dólar, pressiona câmbio japonês. Foi de 120 ienes por dólar para 160 em semanas.
Isso levou o Japão a subir a taxa de juros (e foi pouco, para 0,25%), suficiente para assustar e prejudicar quem fazia operações de carry trade.
O Brasil é afetado por estar na outra ponta do trade, de quem recebe recursos.
A raiz da instabilidade é o fiat money, capacidade dos governos de ter controle sobre a quantidade sem lastro.
Apesar das fragilidades, tal sistema vem durando, mesmo com solavancos, e pode durar por muito tempo.
Quando a China vai quebrar?
A China tem um câmbio irreal. Economia fechada, ninguém sabe ler o que ocorre lá.
Estouro de bolha imobiliária. Mas ele controlam tudo por lá. E não vai quebrar da forma que outros países quebram.
Sobre a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos
Imagine que a sociedade tem a taxa de juros natural, aquela de equilíbrio entre poupança e demanda por investimentos.
Quando o governo quer estimular a economia, ele pode baixar a taxa de juros, abaixo do ponto de equilíbrio. Isto vai tornar menos atrativo deixar o dinheiro no banco, e investidores irão à procura de algum projeto com retorno esperado maior.
Considere um empreendimento, que fazendo estimativas de custo e retorno, é inviável, com a taxa de juros natural. Quando o governo baixa os juros na marra, tal empreendimento se tornará viável, ali, na risca.
Empreendimentos inviáveis sairão do papel, até o momento em que, anos depois, ou se mostrarão inviáveis de verdade, ou o governo será obrigado a aumentar novamente os juros, tornando os mesmos pouco atrativos. Haverá o processo de correção, com recessão. E, dessa forma, haverá destruição de valor, no final das contas.
Originally published at https://ideiasesquecidas.com on August 10, 2024.