Meta: ser rejeitado 100 vezes!

Arnaldo Gunzi
4 min readJan 30, 2021

Que tal pedir para jogar bola no quintal de uma pessoa aleatória? Pedir um dia de emprego numa empresa qualquer? Pedir para pilotar um avião?

Jia Jiang, um chinês radicado nos EUA, sonhava em ser empreendedor quando criança. Porém, ele nunca conseguia tirar suas ideias criativas do papel.

Até que, aos 30 e poucos anos, casado e com uma filha pequena, ele pediu demissão de um bom cargo numa empresa top 500 da Fortune para tentar empreender. Contratou alguns bons programadores, investiu todas as forças e economias, para alguns meses mais tarde… ser rejeitado por um investidor de risco.

Jiang estava preste a desistir do empreendimento, quando tentou outra abordagem. A fim de se preparar para as repetidas rejeições futuras, ele começou a estudar o tema. Descobriu a “terapia da rejeição”, onde o objetivo é ser rejeitado diversas vezes seguidas.

Ele achou a terapia da rejeição original muito simples, e quis levar ao extremo. Bolou o desafio dos 100 dias de rejeição, com propostas bizarras para ser rejeitado e começou a filmar a curiosa experiência.

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No primeiro dia, ele perguntou a uma pessoa aleatória se ele poderia pegar 100 dólares emprestado.

O mesmo respondeu: “Não, por quê?”

Jiang estava tão tenso que não prolongou a conversa. Disse “Obrigado” e se foi. Pensando bem, ele poderia ter explorado melhor a conversa. Elaborado o pedido. Explicado a razão.

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No terceiro dia, algo incrível aconteceu.

Era na época das Olimpíadas, então ele pediu rosquinhas na forma dos anéis olímpicos. Para sua surpresa, a atendente entregou o pedido!

O vídeo viralizou. A atendente ganhou inúmeros elogios, e Jiang virou uma espécie de celebridade.

O seu objetivo era o “não”, e ele acabou com um belo “sim”, sem querer. Isso abriu a cabeça dele para um mundo de oportunidades.

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A rejeição atua no cérebro como uma dor física. Levar uma tijolada na cabeça é quase igual a levar um “não” rude, pelo menos para o cérebro.

As raízes disto são biológicas. No tempo do homem das cavernas, ser rejeitado por um grupo seria basicamente uma condenação à morte.

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Com o passar do tempo, Jiang começou a ficar melhor e melhor em sua técnica de negociação.

  • Ele pediu (e conseguiu) que um apresentador cantasse “brilha brilha estrelinha” para a filha; a dar boas vindas aos passageiros no avião; a jogar bola no quintal de uma pessoa.
  • Pediu para plantar flores numa casa aleatória. O proprietário disse “não”. Explorando o motivo, era porque o cachorro destruía todas as flores. Não era pela pessoa ou pelo comportamento, simplesmente ele não precisava da flor no quintal. O dono da casa recomendou a vizinha da frente, que aceitou e adorou a flor.
  • Ele pediu um emprego de um dia, e foi aceito na terceira tentativa.
  • Pediu para pilotar um avião, e conseguiu um experiência de voo incrível.

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Algumas lições que Jiang ensina.

  • O mesmo pedido bizarro causava reações completamente diferentes nas pessoas. A rejeição reflete menos você, e muito mais a outra pessoa. Tem muito haver com a opinião delas, e opiniões existem para tudo e para todos.
  • O bom humor ajuda na rejeição.
  • Após um número suficiente de “nãos”, alguém vai aceitar. Este é o papel da persistência. Quanto mais você é rejeitado, maior a chance de conseguir um “sim” em algum momento. O experimento mais bizarro que eu achei da lista foi dar maçãs para pessoas quaisquer na rua. Por incrível que pareça, até para isso teve uma pessoa que aceitou a maçã e saiu mordendo a mesma…
  • Perguntar “por quê”, buscar alternativas — algo que o autor Robert Cialdini, especialista em persuasão, chama de BATNA — best alternative to non-agreement. Jiang pediu o lanche de panqueca com ovos no McDonald’s à tarde, o que era impossível porque o maquinário é limpo após o período da manhã. Porém, conversando com o atendente, ele conseguiu um lanche alternativo, pão com ovos, tão bom quanto.
  • Outra estratégia é recuar e retornar com outro ângulo. Não se render, não desistir, mudar o pedido…
  • Treinar e se preparar para fazer o pedido.
  • Paciência, respeito, empatia, bom humor, ser direto e transparente, oferecer alternativas e concessões, saber o por quê.

Se você pedir, pode ser rejeitado ou pode conseguir. Se você não pedir, você mesmo está se rejeitando com 100% de probabilidade!

O livro é leve para ler, as premissas são simples, e a lição de vida é algo válido para todos. Seja rejeitado mais vezes!

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Jia Jiang tem um blog onde posta suas experiências:
https://www.rejectiontherapy.com/100-days-of-rejection-therapy

Tem o TED dele, nos links abaixo:
https://www.ted.com/talks/jia_jiang_what_i_learned_from_100_days_of_rejection

Originally published at https://ideiasesquecidas.com on January 30, 2021.

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Arnaldo Gunzi

Project Manager - Advanced Analytics, AI and Quantum Computing. Sensei of Analytics.