Esperar, Jejuar e Pensar
“Eu sei esperar, jejuar e pensar”. O personagem Siddhartha, do romance de mesmo nome de Herman Hesse, repete inúmeras vezes a frase ao longo do livro.
Li o livro faz uns 6 anos, mas só agora essas palavras voltaram à mente. Talvez por conta do mundo moderno, pós-pandemia, que está cada vez o oposto: impaciente, faminto e impetuoso.
- Impaciente. Mensagens instantâneas via Whatsapp, Teams, Slack. Vídeos de 15 segundos, tweets de 140 caracteres. Verificar e-mail a cada 10 minutos. Para que ler um livro se tem o YouTube?
- Faminto, no sentido de guloso. Mais produtos, mais posses, mais dinheiro, mais sexo. Comprar comida pela internet e receber em casa. Catálogo infindável de filmes, séries e música, via streaming. O mundo ao toque de suas mãos. Ter mais views, aplausos e seguidores. Consumir. Viagens, roupas, carro, posição.
- Impetuoso. Nesta era instantânea e delivery, é tudo ação e resultados imediatos. Para quê esperar e pensar?
Siddhartha é o nome do personagem. É uma referência clara à Siddhartha Gautama, o Buda, porém, o personagem principal não é ele, é uma pessoa de mesmo nome. De certa forma, é um romance biográfico. O Buda é inatingível, mas o personagem Siddhartha é uma pessoa comum: alguém como eu, você, ou o Herman Hesse. É alguém que começou num caminho simples, saiu ao mundo para conquistar dinheiro, posição social e os prazeres da vida. Após as conquistas, sentiu o vazio disso tudo, e voltou ao caminho ascético.
É um livro curto, umas cento e poucas páginas, e agradável de ler. Porém, mais do que um resumo da história, eu gosto da mensagem — mesmo que tenha demorado muitos anos para entendê-la.
Esperar.
Jejuar..
Pensar…