Como criar um Momento Imparável com ajuda da Física
Inércia e Momento
Em Física, o momento mede a quantidade de movimento de um objeto. Ele é calculado como o produto da massa do objeto pela sua velocidade:
p = m*v
Também em Física, temos as famosas Leis de Newton.
A Primeira Lei de Newton é Lei da Inércia. “Um corpo em repouso permanece em repouso e um corpo em movimento continua em movimento com velocidade constante em linha reta”.
A inércia pode ser interpretada como uma “resistência”. Quanto maior a massa, maior a resistência em movê-la ou, se já estiver em movimento, mais a dificuldade de parar.
A Segunda Lei de Newton diz que força é igual à massa vezes aceleração.
F = m*a
Detalhe que a fórmula acima é simplificada, para o caso em que a massa é constante. Se a massa não for constante, uma melhor descrição da segunda lei seria:
F = dp/dt
onde p é o momento definido acima. Ou seja, a força é a derivada do momento pelo tempo.
“Mas em que ocasião a massa varia com o tempo?”, podem perguntar os mais argutos. Ora, imagine um foguete que vai queimando combustível ao longo do tempo — sua massa vai decrescendo. O pessoal da SpaceX com certeza usa esta versão da segunda lei!
A Terceira Lei de Newton é a lei da ação e reação. Quando eu jogo uma bolinha para frente, o meu corpo também sofre o efeito e vai um pouco para trás — imagine o “coice” de uma arma, por exemplo.
Para toda ação, existe uma reação de igual intensidade e direção, mas em sentido contrário.
É claro que o efeito em ambos os corpos é diferente. A bolinha, de pouca massa, sai em grande velocidade. Eu, de grande massa, vou para trás com menos velocidade. É a conservação de momento linear, usando o conceito da primeira fórmula mostrada.
p1 = p2, ou seja, m1v1 = m2v2.
A conservação de energia diz respeito a uma propriedade que se conserva no tempo.
A conservação de momento diz respeito a uma propriedade que se conserva no espaço.
Aplicando os Conceitos ao Flywheel
Vamos aplicar os conceitos mostrados no flywheel, o disco giratório.
Imagine um disco pesado. No início, é muito difícil fazê-lo ganhar velocidade. Aplicamos força, mas os resultados são pequenos. Continuamos insistindo até que o disco começa a ganhar velocidade.
Lembre-se de que F = m*a. Devemos aplicar força para acelerar o disco e ganhar velocidade. Prosseguimos nesse ciclo, vencendo a inércia, até o ponto em que o disco ganha muita velocidade — e aí, é difícil parar!
O disco imparável é o conceito de “flywheel”. É o ciclo virtuoso, a mentalidade que sustenta a estratégia da Amazon.
O fundador da Amazon, Jeff Bezos, gostou tanto do conceito que, segundo a lenda, desenhou num guardanapo o flywheel da Amazon:
Seleção e preços competitivos -> Ótima experiência do cliente -> Tráfego -> Vendas -> Maior seleção e menores preços.
Estrutura de custos frugal -> Menores preços -> Ótima experiência do cliente
A Amazon vem cumprindo à risca o conceito. Preços competitivos atraem clientes, geram tráfego e vendas, o que possibilita escala, tanto em termos de dados quanto em logística. Isto permite aumentar a seleção — inclusive trazendo vendedores terceiros à plataforma. Com volume e escala é possível criar inovações como o Prime (este defendido com força por Bezos), Kindle, AWS (Amazon Web Services), entre outros, para agregar valor aos consumidores.
Massa e flywheel
A história do Bezos é fascinante, só que tem um detalhe a mais no modelo.
Lembre-se de que F = dp/dt, onde p = m*v.
No caso da Amazon, além do efeito da força aplicada, também a massa aumentou!
O que seria a “Força”? Seria a capacidade de execução, know-how técnico dos engenheiros, a capacidade de negociação dos executivos, etc.
E o que seria a “Massa”? Seria a quantidade de clientes, a quantidade de fornecedores que utilizam a plataforma, o alcance diário de potenciais clientes.
No caso de executivos de empresas, a “Massa” seria o orçamento disponível para sua área, a quantidade e qualidade de funcionários, o capital político e de conexões. Já a “Força” seria efetivamente a capacidade de fazer bons trabalhos e mexer ponteiro com isso tudo. Não à toa, a época do orçamento é sempre uma disputa por recursos, para posterior capacidade de execução.
O Estado tem grande massa, porém pouca velocidade. Uma startup de meia dúzia de pessoas é o oposto, pouca massa e muita velocidade.
Na prática, há um limite para o quanto de velocidade é possível colocar. Um limite teórico é a velocidade da luz. Mas um limite mais prático é a resistência do ar. Já a massa, não tem limites — vide Júpiter, o Sol, ou um buraco negro.
O impacto total do Estado é enorme, com todas as ineficiências inerentes ao tamanho. O impacto de uma startup tende a zero, a menos que ela cresça em massa.
O segredo real do flywheel é ganhar massa, além de velocidade. Ao contrário de um foguete, que vai perdendo massa, a ideia é ser como uma estrela em formação.
Uma estrela em formação, à medida que vai ganhando velocidade, também vai ganhando massa. Sua gravidade aumenta a cada partícula que agrega, até chegar ao ponto de virar uma estrela completa!
Faça uso dos conceitos citados para criar o seu flywheel!
“É preciso ter o caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançante.” — F. Nietzsche.
Originally published at https://ideiasesquecidas.com on November 1, 2024.