Classificadores e falsa dicotomia
Há infinitas formas de classificar o mundo.
Quando fazemos uma classificação, o objetivo é simplificar a nossa visão, e, supostamente, agregar algum valor ao fazer isso.
É muito simples criar classificações inúteis.
Podemos dividir o mundo em 2 tipos de pessoas. Digamos:
- Existem aqueles que amam quiabo cozido com ervas finas e aqueles que não amam.
- Existem aqueles que torcem para a Ponte Preta, a famosa macaca de Campinas, e todos aqueles que não torcem.
- Existem aqueles que leram a versão em grego clássico da Odisseia de Homero, e os que não.
O que há em comum com essas classificações? Não servem para nada. Dividir o mundo em amantes de quiabo cozido com ervas finas e todo o restante não tem finalidade alguma. O primeiro grupo vai ter menos de 0,5% da população do mundo (sendo generoso) enquanto todo o resto do mundo agrupado, vai ter pouquíssima coisa em comum (além de desgostar de quiabo cozido com ervas finas).
Aqui, há também um segundo problema, que é o da Falsa Dicotomia. Isto ocorre quando damos apenas duas opções possíveis, quando, na vida real, há uma infinidade de outras opções.
Existe mundo além do quiabo com ervas finas. Aliás, existe uma gama infindável de pratos extremamente mais apetitosos. Assim como existem centenas de times além da Ponte Preta, e centenas de milhares de livros em dezenas de línguas além da Odisseia em grego clássico.
Esta técnica é muito enganosa, porque dá a impressão de que o interlocutor tem liberdade de escolha. O manipulador só não fala que as duas escolhas o beneficiam.
Minha mãe, quando eu era pequeno, utilizava muito a técnica. Eu tinha duas opções: ou lavar a louça ou varrer a casa, da qual sempre escolhia a menos pior. Na verdade, havia outras opções possíveis sim: negociar para fazer essas tarefas outro dia, ou algum terceira tarefa mais palatável, digamos, limpar os móveis.
A primeira vez que ouvi este termo foi no livro “Como Vencer Um Debate sem Precisar Ter Razão”, de Arthur Schopenhauer. Segundo o próprio autor, “um manual de patifaria”, com 38 estratagemas.
A técnica da Falsa Dicotomia é muito utilizada. Assim como classificações esdrúxulas para beneficiar o manipulador. Fique esperto.
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Originally published at https://ideiasesquecidas.com on October 8, 2022.