Balanço sobre o forecast de 2021, da revista “The Economist”
No começo de 2021, a revista “The Economist” fez uma previsão de tendências para o ano.
Era um perído repleto de incertezas, com a Covid no pico, e as primeiras vacinas ainda chegando.
Em geral, o forecast sugeriu mudanças de comportamento maiores do que realmente ocorreram. Algumas das tendências realmente estão ocorrendo, porém, deve levar mais do que o ano de 2021 para se concretizarem.
Segue uma reflexão sobre o artigo “O que está por vir em 2021, em 20 pontos da revista The Economist”.
1 — Os humanos querem se socializar novamente, mas o trabalho remoto basicamente permanecerá o mesmo. Vamos continuar a trabalhar online a partir de nossas casas cada vez mais adaptadas e com reuniões em lugares diferentes todos os meses para socializar e conectar.
Balanço: Com o arrefecimento da propagação da Covid, a tendência atual é um modelo híbrido. Retorno gradual aos escritórios, trabalho remoto em alguns dias da semana. Alguns setores nunca pararam, por serem presenciais por natureza. Já a socialização tende a retornar aos patamares anteriores, com ajuda de tecnologia — afinal, socializar ao vivo é extremamente melhor do que socializar remotamente!
2 — Escritórios vão fechar com uma porcentagem muito alta e esse modelo retrógrado será tomado por tecnologias disruptivas. As grandes corporações serão sempre lembradas como os enormes mamutes de 1980–2020 em extinção.
Balanço: Algumas tecnologias disruptivas, de comunicação remota, ganharam força durante o ano, mas ainda estamos longe de um metaverso, e grande parte dos “mamutes em extinção” ainda não foram extintos. Deve levar mais tempo e novas ondas de mudança para o forecast se concretizar.
3 — Os hotéis de trabalho desaparecem em pelo menos 50%. Viagens, congressos ou reuniões de trabalho nunca voltam a ser como eram, se puderem ser feitos online.
Balanço: Hotéis e todo o setor ligado ao turismo foram fortemente afetados durante a pandemia. Com o retorno gradual às atividades alguns movimentos contrabalançearam, como o trabalho nômade. Eventos e congressos online permitiram a participação de pessoas do mundo todo, a contrapartida é o overflow de convites e banalização de eventos online. Alguns eventos voltaram ao ser no formato presencial, embora ainda não com força total.
4 — As casas tornam-se mais tecnológicas e adaptadas ao trabalho diário. Muitas empresas se dedicarão a resolver as necessidades de trabalhar em casa. Hoje você pode morar fora de uma cidade grande, trabalhar da mesma forma e gerar o mesmo valor.
5 — A produtividade não depende mais de um chefe que te vê, agora é por meio de plataformas que te ajudam a medir resultados, KPIs e tempos eficientes. Contratar os melhores do mundo hoje é mais fácil, barato e eficiente.
Balanço: Mesmo antes do trabalho remoto, KPIs e medições objetivas deveriam complementar ou substituir o “chefe que te vê”. Sobre contratação, boa parte das empresas brasileiras ainda não se adaptou, não permitindo jornada 100% remota. Quem o fizer terá um diferencial competitivo interessante.
6 — Tudo o que é repetitivo torna-se virtual e em regime de assinatura. Igrejas, arte, academias, cinemas, entretenimento. Poucos lugares podem manter estruturas físicas como antigamente.
Balanço: Este forecast parece estar na direção correta, mas ainda vão alguns anos ou outro choque para se concretizar.
7 — Empresas que não investem pelo menos 10% em novas tecnologias irão desaparecer. A empresa tradicional chegou ao fim em 2020. Resta esperar sua morte final.
Balanço: As empresas tradicionais ainda não morreram, e algumas ainda vão sobreviver por um bom tempo. Mamutes também se adaptam!
8 — O turismo para entretenimento retorna plenamente fortalecido no segundo semestre de 2021, sempre acompanhado de muita tecnologia na sua operação, desde a compra, a operação e as experiências a serem recebidas.
Balanço: Devido a outras ondas e repique da Covid, o turismo para entretenimento ainda está prejudicado, embora tenha retornado no segundo semestre de 2021.
9 — O tratamento de dados pessoais torna-se mais delicado e as grandes plataformas vão mudar. As pessoas voltam a pagar assinaturas devido ao senso de transparência que isso envolve. Eles preferem pagar a doar seus dados. As grandes marcas hoje valem sua credibilidade. Tudo pode ser copiado ou replicado, exceto prestígio.
Balanço: A tentação de fonte gratuita de dados, e o enorme número de assinaturas necessárias para cobrir diversas fontes de informação fossem esses pagos, ainda fazem com que as pessoas se preocupem menos com os seus dados pessoais do que com o seu bolso, em geral.
10 — A força de trabalho será drasticamente reduzida e muitas operações simples serão fornecidas por IA. Em 2024, a IA já lidará com operações complicadas em milhões de locais. Uma grande temporada global de demissões está chegando.
11 — A educação nunca mais será igual. Cada um pode estudar o que precisar. Estudar offline e online será normal. Escolas e universidades são transformadas em um esquema híbrido para sempre.
12 — O sistema médico será adaptado com tecnologia remota para sempre. Uma consulta médica por teleconferência será normal. As pessoas ficam menos doentes com vírus, bactérias e doenças devido ao manuseio inadequado dos alimentos, graças à limpeza recorrente do indivíduo comum.
13 — A economia pessoal se contrai, novas formas de gerar transações comerciais são utilizadas e as pessoas economizam mais. Uma alta porcentagem dos gastos da família vai para atividades que antes não tinham demanda e vice-versa.
Balanço: Não é necessariamente verdade que as pessoas economizam mais. Sobre oferta e demanda, tendem a um novo equilíbrio, como sempre ocorreu na história.
14 — E-commerce continua a crescer, players como Facebook, Tik-Tok e YouTube entram para competir com a Amazon. Fechamento de 50% das lojas físicas globais. As lojas sobrevivem graças ao fato de serem experiências e showrooms, mas o comércio real no final de 2024 será maior online do que presencial em muitas áreas. Os grandes shoppings ficarão presos no tempo. Poucos sobreviverão a longo prazo.
15 — Mudanças climáticas serão um tópico muito discutido e apoiado. As grandes indústrias continuarão a se transformar com apoio da IA. Vamos passar da questão Covid para a Mudança Climática como a questão principal.
Balanço: O tema “Covid” continua forte, devido à variantes inúmeras e ao trauma causado nos últimos dois anos.
16 — Novos modelos de informações e notícias por assinatura com mais transparência ajudarão a disponibilizar conteúdo sem tantas fake news. Credibilidade e transparência serão a pedra angular de todas as empresas. As pessoas estão cansadas de tanta informação e preferem interagir com alguns seletos provedores de informação.
Balanço: Ao invés de credibilidade e transparência, boa parte das pessoas, para não dizer todas, prefere o viés confirmatório de notícias que vão ao encontro de sua visão de mundo, formando bolhas de pensamento.
17 — A saúde mental torna-se um tema recorrente. Grandes plataformas ajudam as pessoas a enfrentar as situações de agressividade, solidão e angústia que vivenciaram durante o isolamento. Há muito a repensar. As crises de liderança nas empresas serão mais comuns a cada dia.
Balanço: Saúde mental realmente tornou-se um tema de enorme importância, principalmente na fase mais aguda de Covid e medidas de distanciamento.
18 — Os grandes problemas como educação, saúde, energia, segurança, política, destruição da classe média, ganham destaque. Grande capital é investido para fazer o bem, enquanto os problemas globais são resolvidos.
Balanço: O mundo não parece ter mudado tanto a ponto de priorizar os temas citados.
19 — Tudo vai para o natural e saudável. Alimentos, experiências e forma de interação. 100% natural, produzir a própria comida, meditar e se exercitar, passa a fazer parte do dia a dia. Ser mais saudável é o “novo luxo”.
Balanço: O natural e saudável é uma tendência que continua ganhando força.
20 — O mundo está vendo este ano como um novo começo. Um renascimento. As pessoas vão repensar seus objetivos pessoais, de trabalho, saúde, dinheiro e espirituais. Grandes oportunidades estão surgindo para satisfazer todos esses requisitos e mudanças de pensamento. Acumular, consumir e viver pelo material vai para o lado negativo. A inovação, a tecnologia, o pensamento natural e lateral são a base da nova realidade. Todos estão a tempo de encontrar novos caminhos.
Balanço: O mundo não parece ter mudado tanto a ponto de fazer a humanidade repensar os seus grandes caminhos e buscar iluminação espiritual. Com o gradual retorno à normalidade, também retornamos às mesmas preocupações mundanas de sempre.
Conclusão
O começo de 2021 era de extrema ansiedade, refletido em projeções mais ousadas do que realmente ocorreram. O mundo mudou, mas menos do que o previsto.
As tendências apontadas continuam válidas para os próximos anos. E-commerce, rearranjo de oferta e demanda, preocupações com saúde mental e novas epidemias; mudanças climáticas e alimentação saudável.
Educação remota e trabalho remoto, até medicina remota, equilibrados com uma parte híbrida.
Inovação, inteligência artificial e automação, além da própria digitalização de quase tudo, podem levar a reequilíbrio de alocação de trabalho e pessoas, em geral aumentando a concentração de renda dos vencedores num mundo cada vez mais globalizado.
Uma palavra para 2022: Esperança. Esperança de deixarmos para trás a terra arrasada pela pandemia, e termos anos mais estáveis pela frente.
Post original
Trilha sonora:
U2 — I Still Haven’t Found What I’m Looking For
Originally published at https://ideiasesquecidas.com on December 26, 2021.