As curiosas eleições municipais de 2024 de São Paulo

Arnaldo Gunzi
3 min readOct 5, 2024

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Está sendo curioso assistir às campanhas municipais de São Paulo, porque, além do pleito municipal, certamente estes serão os candidatos das eleições dos próximos anos e décadas (fora o Datena).

Guilherme Boulos (PSOL): o mais extremo à esquerda, líder do MST. Está seguindo roteiro como o de Lula e se colocando como moderado, paz e amor. Talvez funcione, talvez não.

Tábata Amaral (PSB): É a mais paradoxal. Se coloca como esquerda moderada e se diz “periferia”.

Sempre conta a história de como saiu da extrema pobreza para vencer na vida.

Porém, tem zero empatia com o povão da periferia. Parece aquela menina intelectual que senta na primeira fileira, tira 10 nas provas e é a menos popular da turma.

Além disso, é financiada por Jorge Lehmann, Armínio Fraga e outro grupo de bilionários. Ao invés de apoio popular, tem apoio da mais alta elite do país.

José Luiz Datena (PSDB): Apresentador de TV, ficou anos “namorando” uma eleição a cargo público, para alavancar a popularidade. Não vingou e não continuará na vida pública em cargos relevantes.

Assim como a mídia tradicional está sendo eclipsada pelas novas mídias, o representante da mídia tradicional foi eclipsado pelo representante das novas mídias.

Ricardo Nunes (PMDB): Centrão clássico, com toda máquina política a seu favor.

Vice de Bruno Covas, ganhou a prefeitura com a morte do titular. Tem zero empatia, zero perfil de político tradicional (aquele que fala alto, abraça criancinhas).

Colocou-se como enérgico na campanha, para contrapor a imagem de passivo que tinha (antes da eleição eu nem tinha ouvido falar dele, apesar de ser prefeito de SP).

Sua apatia é, ironicamente, a arma para segundo turno: a não rejeição. Como não causa emoções, não é amado e também não é odiado.

Pablo Marçal (PRTB): Mudou toda a lógica das campanhas. Zero tempo de TV e zero dinheiro público, 100% de redes sociais. Nova mídia: Instagram, cortes de Youtube e similares.

Coloca-se mais à direita, e postulou apoio do Bolsonaro (não obteve, o apoio foi para Nunes).

Tinha tudo para ser como Levy Fidelix, Padre Kelmon ou outros do PRTB, com zero intenções de voto, porém, roubou a cena.

É especialista em retórica. Os argumentos são 100% ad hominem. Mestre em manipulação emocional: ironia, linguagem corporal de desprezo aos adversários.

Provocativo, compreende totalmente a economia da atenção. Cortes, frases de efeito e apelidos: “Comedor de açúcar”, Chatábata, Dá Pena, Bananinha. Protagonizou as cenas de cadeirada e de briga nos bastidores, e as regras dos debates mudaram por conta dele.

Também é periferia, como a Tábata, mas periferia do fundão da sala, aquele que não assiste aulas, lidera os bagunceiros e tira nota baixa — por isso mesmo, tende a ser popular. Coloca-se como bem-sucedido por empreendedorismo.

Tem alta rejeição: melhor ser amado e odiado do que ser neutro, sem sal.

Conclusão

Independentemente de quem ganhar, são políticos jovens, com muitos anos pela frente. Eles estarão em cena nas próximas décadas, concorrendo à presidência e aos governos.

Veja também:

Para que serve o segundo turno das eleições? (ideiasesquecidas.com)

Originally published at https://ideiasesquecidas.com on October 5, 2024.

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Arnaldo Gunzi

Project Manager - Advanced Analytics, AI and Quantum Computing. Sensei of Analytics.