A estratégia de sobreviver aos inimigos
No Japão da época dos grandes samurais, os três nomes listados abaixo se destacavam. Há uma piada antiga, que mostra a diferença de estratégia entre eles:
Tenho um passarinho que não quer cantar. Como você faria ele cantar?
- Oda Nobunaga: Vou bater até fazer ele cantar
- Toyotomi Hideyoshi: Vou fazê-lo cantar
- Tokugawa Ieyasu: Vou esperar até ele cantar.
Este texto é sobre o terceiro, que utilizou habilidade, muita inteligência e paciência, para criar uma das dinastias mais bem sucedidas da história do Japão.
Mas, primeiramente, o contexto geral.
O Japão feudal dos anos 1500 e pouco era dividido em diversos feudos (daimyo), cada qual com um clã político militar que o controlava independente dos demais. Existia a figura do Imperador, mas era apenas figurativa / espiritual — algo parecido com o papa, no ocidente.
Oda Nobugawa, por volta de 1560, começou uma campanha brutal de unificação do Japão, conquistando militarmente os outros feudos. Ele foi o primeiro grande unificador, apelidado de “Rei-demônio”, por sua força militar. Porém, Nobunaga foi emboscado numa rebelião liderada por um ex-aliado, e morreu antes de terminar a campanha de unificação do país.
Toyotomi Hideyoshi era o mais brilhante general de Nobugawa, e venceu a disputa para sucedê-lo. Hideyoshi, nos anos seguintes, terminou de unificar o Japão, ou formando aliados ou destruindo os daimyos rebeldes. Após a unificação total do Japão, por volta de 1590, ele lançou uma campanha mal-sucedida de conquista da Coreia, em 1592.
Hideyoshi era um grande estrategista, e possivelmente o seu clã dominaria a política do Japão por diversas décadas. Porém, ele enfrentou um problema biológico: dificuldade em ter filhos para sucedê-lo. Apesar de inúmeras concubinas, só no final de sua vida ele conseguiu ter um filho — mesmo assim, a legitimidade era suspeita.
O grande Hideyoshi faleceu em 1598, após anos doente. O seu filho, Hideyori, tinha apenas 5 anos na época. A guerra na Coreia não fazia mais sentido, e as tropas retornaram ao Japão.
Tokugawa Ieyasu estava nas sombras esse tempo todo, aliando-se primeiro a Nobunaga e depois a Hideyoshi, e fazendo o seu próprio daimyo crescer. Quando Hideyoshi se foi, ele era o mais forte candidato à sucessão, e aproveitou a oportunidade: aliou-se a outros líderes poderosos, tirou o menino Hideyori da jogada e assumiu o poder de fato do país.
Tokugawa moveu os daimyos aliados para perto dele, geograficamente, e empurrou aqueles menos confiáveis para longe, criando uma zona de segurança. Também trouxe estabilidade política e militar, com sua habilidade administrativa. Recriou o título de Shogun, e não faltavam filhos para sucedê-lo.
E é por isso o título do texto. Nobunaga fez um enorme trabalho, Hideyoshi prosseguiu, mas quem colheu os frutos foi Tokugawa.
Tokugawa ficou na dele, quando tinha alguém mais forte, esperando a oportunidade e se preparando. Quando a oportunidade surgiu, por capricho do destino, ele a agarrou.
Tokugawa literalmente venceu por ter conseguido viver mais do que os concorrentes. Observe a comparação:
- Nobunaga viveu 47 anos
- Hideyoshi viveu 63 anos
- Tokugawa viveu 73 anos
- O shogunato Tokugawa durou mais de 250 anos
Utilizando habilidade e inteligência, Tokugawa foi maior do que uma pessoa apenas — ele conseguiu criar uma dinastia. O shogunato Tokugawa foi um dos mais bem sucedidos da história, durando de 1603 até 1868, onde ocorreu a revolução Meiji — rápida expansão industrial e militar do Japão.
Essa é a estratégia da paciência: não atacar quando a situação não estiver favorável, ir se preparando para quando tiver a oportunidade. Ser impaciente na preparação, porém paciente para esperar o momento de atacar.
Veja também:
https://en.wikipedia.org/wiki/Tokugawa_shogunate https://en.wikipedia.org/wiki/Tokugawa_Ieyasu https://en.wikipedia.org/wiki/Toyotomi_Hideyoshi https://en.wikipedia.org/wiki/Oda_Nobunaga
Age of Samurai: Battle for Japan
https://www.netflix.com/title/80237990
Originally published at https://ideiasesquecidas.com on July 3, 2021.